domingo, 23 de outubro de 2011

Concepção de Antoine sobre a arte da iluminação

André Antoine(1858-1943), encenador naturalista francês moderno. Participou da legitimação da encenação como arte no início do século XX, quando o diretor começa a conceber o espetáculo a partir de uma unidade estética. A iluminação está começando a ser utilizada como parte do projeto estético do encenador, ou seja, deixa de servir apenas com intuito funcional para ser concebida como arte.

Referências do período:
Na economia: Capitalismo- objetos com valor de uso e valor de troca. Arte como produto.
Cotidiano: Lâmpada, automóvel, telefone, avião.
Na arte: Naturalismo/ Realismo/ Belle Époque/ Impressionismo
Na literatura: Baudelaire, Zola, Guy de Maupassant.
No teatro: Dumas , Ibsen, Antoine.

LEMBRANDO que a primeira lâmpada comercializável foi inventada em 1879! Thank you Sir Thomas Edison.

À seguir trecho do livro Conversas sobre a Encenação (Ed 7 Letras) em que Antoine expõe sua visão sobre a arte da iluminação:

"E agora vamos à luz!
Aqui a batalha continua sempre viva, e o espírito de Sarcey ¹ ainda se agita. A maioria dos encenadores- com exceção de alguns efeitos de noite evidentemente indicadas no texto- serve-se ainda da luz brutal e crua da ribalta e das lâmpadas no máximo de suas potências.
Entretanto, os equipamentos disponíveis vêm sendo aperfeiçoados admiravelmente a cada dia. Encontramo-nos aqui longe dos tristes candelabros, velas, candeeiros e do gás, visto que após sua origem o progresso foi constante e ininterrupto.
É que a luz é a vida do teatro, a grande fada da decoração, a alma de uma encenação. Somente ela, inteligentemente manipulada dá a atmosfera, a cor de um cenário, a profundidade, a perspectiva. A luz age fisicamente sobre o espectador: sua magia acentua, sublinha, acompanha maravilhosamente a significaçao íntima de uma obra dramática. Para obter magníficos resultados não é preciso temer administrá-la, espalhando-a de forma desigual.
O público, apesar de exclamar diante de um belo cenário habilmente iluminado, ainda reclama quando não consegue distinguir nitidamente o rosto e os mínimos gestos de um ator de sua preferência. Conhecemos sua repugnância por esses crepúsculos, cuidadosamente criados, que longe de incomodar sua percepção a assegura, sem que se dêem conta. Devemos persistir e não fazer concessões. Um dia teremos razão, e até mesmo a multidão acabará por compreender ou sentir que, para constituir um quadro, são necessários valores e harmonias que não podemos obter sem sacrifícar certas partes; ela reconhecerá que assim ganha uma impresão geral mais profunda e mais artística.
Não quero dizer com isso que seja necessário impor ao público um a priori, como esses efeitos de luz demasiado violentos, dos quais os teatros alemães ou ingleses abusaram e que no início nos tinham seduzido pela sua atividade insólita. A profusão, o emprego repetido das projeções, feriria rapidamente o olho do espectador, e esse novo sistema seria tão insuportável quanto o antigo. Mas não devemos temer suprimir, quase sempre a exemplo dos estrangeiros, a luz da ribalta, tão falsa, tão deformadora e que, empregada inteligentemente, não será nunca a principal fonte, mas uma parte discreta e imperceptível da iluminação total." 

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